Sabes filho,

queria poder explicar-te toda a angústia que precede cada sábado "DA VISITA". São apenas duas horas, mas custa-me tanto ter de te partilhar naquele momento. Eu sei que sou a única culpada desta situação, e que tenho muita sorte porque toda a gente me apoia. Mas numa idade em que tu queres que tudo tenha um nome, custa-me dizer "aquela avó", "aquele pai". Um dia eu sei que vou poder explicar-te e acredito que irás entender, mas enquanto isso não acontece, cresce esta revolta. Por ter de te levar para estares com aquelas pessoas que quando se vão embora só voltam a perguntar por ti uma semana depois, num e-mail impessoal. Mesmo que estejas doente, ou mais triste, nunca ninguém pergunta por ti no dia seguinte. Trazem-te "coisas" sem nenhuma utilidade, compradas por comprar. Roupa 3 tamanhos acima que tu nem chegas a vestir. E eu queria ter coragem para dizer que parem de "fazer de conta", que tu não precisas daquilo. E que mesmo o amor que poderias precisar da parte deles, não te faz falta porque eu, o pai e os avós, tios, primas e padrinhos temos de sobra para ti.
Queria fazer-te entender que eles vêm ver-te porque querem cumprir o que "está escrito", para depois me obrigarem também a cumprir e ter de te deixar ir: 1 fim-de-semana por mês, 15 dias de férias, Natal, Páscoa. Não vou aguentar, filho. Não sei se te consigo deixar ir, ou se vou contigo. Com 2 anos e meio tu não vais entender porque tens de ir. E eu amo-te demais. Não te vou querer ver sofrer.

Este sábado é dia "DA VISITA". E eu sinto-me ansiosa e angustiada. Triste e confusa. Ao contrário das outras vezes não vai ser em casa da avó. Depois da discução não me parece bem, pelo menos para já, sujeitar a avó a isto. E eu não sei onde te levar, nem o que combinar... Sabes filho, a culpa é minha, e tudo farei para te proteger enquanto puder.