domingo, 15 de dezembro de 2013

Serei assim tão abençoada??

A poucos dias de receber a minha filha, sinto um nó na garganta e outro no estomago quando penso como foi possível.
Vários diagnósticos de infertilidade, muitas lágrimas, nem um tratamento, porque me recusei sempre a sofrer desilusões previsiveis, eis-me aqui, grávida de um segundo bebé-surpresa.
Grávida do Rafael, senti todas as angústias, tive todos os cuidados, e vivi pelo menos 7 meses em função de uma barriga que crescia. Ia sossegando o coração a cada ecografia, a cada exame de sangue, a cada consulta paga a peso de ouro.
Desta vez, descobri que estava grávida às 30 semanas, fiz uma ecografia apenas, onde não foi possível ver tudo, fiz análises normais uma vez. As consultas, são no hospital, porque já faltava tão pouco, e porque sou hipertensa crónica. Sempre a despachar, e apenas com os 40 minutos de CTG a ouvir o coração bater forte, e os movimentos frequentes a alegrarem-me.
Temi ter um filho diferente, confesso. E vejo-o crescer tão saudável, tão inteligente, tão "sabedor" de tudo que ainda me surpreendo a cada conversa, a cada nova descoberta. Temi ter um filho que não fosse amado, e vejo uma teia de amor coesa, forte e tão visivel aos olhos como ao coração, à volta dele, e fico comovida, e surpreendida.
Tão surpreendida, que penso que nem mereço tanto... e que a hecatombe virá. Porque tenho muitos defeitos e tenho tido muitas coisas boas, acho sempre que por cada coisa boa que tenho uma má tem de me acontecer...pode parecer estupido, mas é na verdade assim que vejo a minha vida. E então, fico angustiada, choro e rezo, para que Deus me dê mais uma benção... uma filha saudável, uma filha que eu ame tanto como amo o irmão, uma filha que me complete e me traga felicidade, aquela felicidade que eu secalhar já não mereço.
Mas no fundo, lá bem no fundo do meu coração sinto que desta vez posso não ser abençoada, porque já fui, e não sou merecedora de tanta coisa boa.

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