quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Más lembranças

Há coisas que não conseguimos esquecer, por piores que sejam, não nos saem da memória. Vão amenizando com o tempo mas não deixam de doer. Faz hoje 8 anos que fui levada para Santa Maria, após mais um desmaio. Desta vez demorei a acordar e as minhas colegas assustaram-se e levaram-me ao hospital. Nesta altura desmaiava quase diariamente e tinha dores de cabeça demasiado fortes. Sempre que ía ao médico davam-me um analgésico diferente, e diziam que eram enxaquecas e a causa era o sistema nervoso. Passei o dia todo no hospital, fiz tacs, ressonâncias, análises e sei lá mais o quê... até que finalmente um médico de olhar bondoso e sorriso agradavel se aproxima e me faz a revelação inevitavel... "tem um tumor cerebral...", na altura acho que não percebi bem, acenei que sim, que podiam espetar-me na cabeça uma agulha enorme, para tirarem não sei o quê para análise. E vim para casa. Confesso que não pensei muito nisso, até ao dia que me ligam para uma consulta no hospital e me dizem que é um tumor benigno, não operável, com consequencias... afecta a parte hormonal, a visão, a oxigenação e imensas outras coisas. Operar seria demasiado perigoso e podiamos ir fazendo tratamentos. Nesse dia fui até à beira rio... olhei para o Tejo, para o Cristo-Rei ali tão perto e pensei: "será que toda a gente ia sofrer menos se eu me matasse agora?" Não chorei, não me zanguei, nem me revoltei... isso só aconteceu depois de anos de tratamentos sem melhoras, de me sentir sózinha e triste em cada tratamento, de ver o meu corpo deformar-se, o meu cabelo enfraquecer, a minha vida condicionada. Escondi tudo o tempo que consegui, para não causar sofrimento, e quando contei ao Nuno, não tive aquele abraço, aquelas palavras que pensei que ia ter. Ele era uma pessoa fria, se sofreu não demonstrou, a minha mãe já tinha sofrido demais com os meus irmãos, não achei justo que voltasse a sofrer. Fiz tratamentos sucessivos até Abril deste ano. A esperança de ter filhos morreu em 2003. Pensamos em adoptar, estivemos inscritos, mas eu tinha demasiada culpa em mim para continuar a sacrificar o Nuno a uma vida destas. E fui embora... arrependo-me tanto de o ter deixado, é talvez a unica coisa de que me arrependo. Ele sofreu muito, mudou muito e aceitou o Rafael... É um grande homem, sei que apesar de todos os defeitos, qualquer mulher gostaria de o ter ao lado.

Não sei se estou curada! Engravidei sem contar e só descobri que estava grávida porque tinha de fazer um teste para iniciar novo tratamento. Tive a minha última menstruação em 23 de Maio, mas antes disso tinha tido em Novembro do ano passado. Engravidar era uma impossibilidade, e o teste foi um pró-forma. Nunca mais desmaei, as análises não acusam o tumor, ressonâncias e tacs estão proibidos. Por isso ninguém sabe se ele ainda cá está ou se o MEU MILAGRE RAFAEL me livrou dele... Por tudo isto deveria sentir-me mais grata e mais feliz. Mas para completar essa felicidade precisava que o Rafael fosse filho biológico do Nuno, e precisava de nunca o ter feito sofrer.

Desculpem o "testamento" ás vezes preciso de desabafar. Obrigada:-)

2 comentários:

Kristianna disse...

Minha linda...espero que esteja tudo bem...que nao tenhas que sofrer mais, e quanto ao teu filho...O homem da tua vida, pode nao ser o pai biologico...mas è o pai de Coraçao...
Pai è quem cria, è quem ama...è que aconxega os lençoes e vai dar o beijo de boa noite...
desejo-te tudo de bom!!
Beijos enormes!

Mami ( Sónia ) disse...

Pai ou mão são aqueles que o são com o coração. Ser biológico não significa que o vá amar mais. Ele aceitou o teu filho como sendo dele também, aprende a viver com isso sem culpas sem medos. Aproveita. Criem o vosso filho com amor,e juntos, isso é que importa que ele o ame incondicionalmente e tu também!
Beijinhos grandes