domingo, 9 de junho de 2013

Recebi um e-mail...

"olá
O Rafael como está?
Gostava que me fosses contando o que se vai passando com ele. Os seus gostos, etc. Sei que os meus emails são sempre curtos, mas a pergunta engloba muita coisa.
Quero de alguma forma poder interagir com ele, mesmo por telefone. Quero que ele me vá conhecendo aos poucos. Para depois quando mais tarde , vier ao Porto e estar comigo e com a minha família ele não tenha dificuldade em se relacionar com as pessoas....
Comecei a trablahr, depois digo algo sobre a ida a Lisboa.
paz"
 
O meu coração estremeceu, depois ficou negro, as lágrimas ainda assomaram aos meus olhos, ainda senti aquela vontade antiga de fugir com o meu filho e não voltar mais. Depois respirei fundo. Voltei a ler, e reparei o quão infantil e desprovida de amor é esta mensagem. O tanto que lhe falta de compreensão sobre esta criança. E respondi:
"Olá,

O Rafael está ligeiramente constipado desde ontem, mas não é nada grave.

Acho que se queres saber o que se passa com ele podias fazer mais perguntas quando vens cá. Não sei o que te dizer por escrito, a não ser que ele está bem. O desenvolvimento dele vê-se não se explica. Eu falo com a tua mãe e digo-lhe as coisas que ele gosta, e que faz, tu nunca me perguntas nada. Se quiseres ser mais concreto, pergunta que eu respondo.
Podes sempre telefonar durante o dia para casa da minha mãe, (enquanto estiveste em casa nunca o fizeste) e tentar falar com ele, a tua madrinha fá-lo, porque não tu?
Podes interagir pelo telefone, mas aviso que ele nem sempre quer falar ao telefone (é uma criança), ele vai-te conhecendo quando tu cá vens, apesar da tua pouca paciência e de ficares "chateado" quando ele faz uma birra no ínicio, mais uma vez, ele é uma criança, vê-te no máximo duas vezes por mês é natural que tenha essa reacção inicial.
O Rafael não é uma criança sociável por natureza, é feitio dele. É inteligente, super-activo, mas demasiado ligado às pessoas que lhe são mais próximas... Claro que se vai habituando a vocês aos poucos, mas não penses que será por isso que vai ficar feliz nas primeiras vezes que fôr, é algo com que vamos ter de lidando aos poucos e na altura.

Mais uma vez estás à vontade para perguntar o que quiseres, lamento apenas que não o faças quando vens e que não lhe dês toda a tua atenção, ele brinca mais com os teus pais do que contigo, mas isso é algo que só tu podes mudar...

Fico feliz que já estejas a trabalhar...

Bjs"
 
E na verdade o meu coração continua escuro, apreensivo. Cada e-mail destes, deixa-me com a certeza que não será assim para sempre, que vai haver uma altura em que ele tem de ir, e eu nunca vou estar preparada.
Estou preparada para lutar, para recusar e para não deixar que o meu bebé sofra.
Ele é feliz comigo, e com o pai. Com o pai que lhe dá atenção mimo, embala, alimenta e faz feliz... com o pai que o ama.
 
E a culpa, o meu sentimento de culpa que nunca acaba.

1 comentário:

Mamã Petra disse...

Não te podes culpar, pois a culpa que sentes só existe porque ele existe e ele só existe pelos motivos que te originam a culpa, bem isto é complicado, eu odeio partilhar os meus filhos com a familia do pai, odeio mesmo, eles só vêm a Margarida 1 semana por ano e mesmo assim sofro horrores, esta semana ela foi para Lisboa e eu fico aqui na penumbra, falo com ela de hora a hora e eles nem a conhecem, nem a mimam nada é só para me aborrecerem, que levam a miuda e fica fechada uma semana em casa, enfim mentes parvas sem afectos